Afinal de contas, o que jogos violentos fazem com você?
Pedro almeida | 15:52 |
Cena de Manhunt 2, para PlayStation 2
O tópico “violência nos games” é sempre muito polêmico, criando uma divisão em como a sociedade vê video games como entretenimento e arte. A cada novo massacre em escolas, shoppings e universidades, jogos são colocados na berlinda, apontados como os desvirtuadores de jovens mentes ao redor do mundo. Só que as coisas são realmente desse jeito?
Obviamente, por estarmos em um site que trata de jogos eletrônicos, a maioria esmagadora acreditará que games não têm ligação alguma a atrocidades cometidas por outras pessoas, assim como o aumento de atitudes violentas. Só que existem diversos estudos que indicam que jogos causam algumas alterações na mente dos jovens. Será que somente essas mudanças já seriam suficientes para fazer alguém se armar e massacrar inocentes?
Agressividade aumentada
Recentemente, o site Kotaku divulgou uma seleção de 25 estudos, feitos entre 1984 e 2012, em que cientistas e psicólogos tentaram encontrar uma ligação real entre o aumento da violência em jovens de diversas idades com jogos considerados mais adultos.
Os resultados, listados em inglês e que você pode ler clicando aqui, mostram que não existe 100% de certeza de que jovens se tornem pessoas violentas, propensas a cometer assassinatos por causa de um jogo de video game. O único fator que realmente parece se destacar é a quantidade de estudos em que ficou comprovado o aumento da agressividade dos participantes após jogarem algo violento.
Neste ponto, devo concordar com os estudos. Sim, alguns jogos conseguem nos deixar mais agressivos, seja por sua dificuldade ou pelas coisas que são exibidas na tela. Mesmo assim, é tudo uma questão de saber para quem exibir aquele tipo de imagem.
Se os seus pais se preocupavam com aquilo que você assistia, evitando que você estivesse presente durante a exibição de algum filme ou série violenta quando era mais jovem, sabe exatamente do que estamos falando. Qualquer estímulo externo pode efetuar variações no nosso humor. A maneira como a nossa mente foi desenvolvida é que vai saber lidar com essas mudanças. Se a sua mente ainda está em formação, existe a chance de aquilo tudo ser absorvido de maneira distorcida.
Um jogo como Grand Theft Auto pode dessensibilizar a violência perante os olhos de uma criança de 10 anos? Pode, mas uma criança dessa idade não deveria nem estar jogando GTA. Sim, muitos de vocês vão reclamar disso, mas existem limites e momentos apropriados para se aproveitar algumas coisas. Particularmente, eu só fui jogar algo mais violento (Mortal Kombat 2) quando já tinha meus 12 anos. E era uma violência fantasiosa demais, com corpos que explodiam e jogavam quatro espinhas, duas cabeças etc.
Títulos como o próprio GTA, Call of Duty, entre outros, mostram uma violência mais realista, o que pode confundir mentes ainda em desenvolvimento. Tudo depende de uma boa educação, aliada com uma boa base cultural. Quando tudo isso não é bem estabelecido, começam a surgir os problemas.
Uma nação construída com armas
Se pararmos para analisar, o grande catalisador para a discussão entre a ligação de violência real e nos games vem dos Estados Unidos. Sempre que algo é tratado em telejornais brasileiros, na maioria das vezes, são informações nem sempre confiáveis e vindas de reportes de jornais americanos.
Sempre que uma tragédia abala o país e o mundo, quase que instantaneamente, são procurados bodes expiatórios para tentar encontrar sentido em uma atitude desprovida de um. Jovem entrou armado na escola e descarregou uma pistola automática nos colegas? Jornais tentam encontrar algum indício de que ele gostava de ouvir músicas pesadas e jogar games de tiro. Não é questionado por que um jovem tinha uma pistola automática.
Isso acontece graças ao fácil acesso a armas nos Estados Unidos. Sim, problemas similares ao que vimos nos EUA acontecem em outros países, mas por lá parece ser mais frequente e, quase sempre, a mídia (em especial os games) é vista como culpada.
Culturalmente, os Estados Unidos são uma nação violenta. Uma guerra civil, participações nas duas Grandes Guerras e um poder bélico impressionante moldaram toda a maneira como a violência é vista no país. Isso é algo que acabou indo para o lado das artes, com músicas, filmes, séries e games representando a cultura do local.
Por causa disso, acusar games de serem responsáveis por mudar a cabeça de jovens, dando ideias para massacres, é algo equivocado. Na verdade, com uma análise dos assassinos que cometeram tais crimes, é fácil compreender que outros problemas foram cruciais para que um ato bárbaro como esse fosse cometido.
Uma boa forma de resumir tudo isso é a declaração do diretor e produtor de cinema Roger Corman. Em uma entrevista ao site Badass Digest, dada para divulgar um novo filme que conta a história de dois personagens de um FPS que descobrem que estão sendo controlados, Corman comentou algo sobre a ligação entre violência e games.
Basicamente, ele disse que um país como o Canadá, que consome os mesmos jogos, mesmos filmes e quadrinhos que os EUA, tem um nível bem baixo de crimes quando comparado ao vizinho. Isso casa novamente com a questão da cultura dos Estados Unidos pesando contra o próprio país.
Mas e aí? Games deixam as pessoas mais violentas?
Com todos os estudos e um pouco de ponderação, é possível entender que jogos eletrônicos podem deixar jovens violentos tanto quanto um filme, música ou qualquer outro estímulo externo. O que faz uma pessoa se armar até os dentes, entrar em uma escola e matar crianças? São tantos fatores que colocar a culpa em um produto de mídia é praticamente uma forma covarde de fugir do problema real.
Cena de Postal III
Jogos violentos devem ser jogados por aqueles que já têm um melhor entendimento do que é a violência e suas consequências, assim como acontece com filmes e outras obras de entretenimento. Agora, acreditar que alguém cometeu um crime apenas porque gostava de jogar Call of Duty nas horas vagas é querer tapar o sol com a peneira. Nunca vai dar certo.
0 comentários:
Postar um comentário